terça-feira, fevereiro 06, 2007
Tinha 15 anos, faria 16 no dia seguinte...mas não chegou lá. Pelo menos não com vida.
Morreu sozinha numa rua de Évora. Esvaiu-se em sangue. Sozinha.
Estávamos em Janeiro...já passaram mais de 30 anos mas parece que foi ontem.
Éramos amigas desde miúdas, andávamos na mesma turma e estávamos sempre prontas para nos apoiarmos uma à outra, sobretudo quando as coisas envolviam uma partida pregada a algum professor.
Era o nosso primeiro ano longe uma da outra. Ela ficou no Alentejo e eu vim estudar para Queluz.
Ela conheceu alguém que nunca devia ter conhecido. Ela deixou de ser uma jovem alegre de longos cabelos pretos e passou a ser um brinquedo nas mãos de alguém que usava as mulheres a seu bel-prazer. Na altura ninguém se lembrou que ela era menor e ele um homem feito e já com filhos. Se alguém se lembrou não achou importante fazer qualquer coisa para colocar um ponto final na situação. Deixou andar. Calou e consentiu.
Um dia na véspera de completar 16 anos apareceu morta numa rua de Évora.
Tinha ido fazer um aborto. Sem qualquer tipo de segurança. Numa casa qualquer de uma mulher qualquer sem escrúpulos.
Ficou toda destruída por dentro...
Foi atirada para uma rua escura num fim de tarde de Janeiro...
E ali encontrou a morte...sozinha porque quem a levou não tinha um pingo de moral nem de consciência e fugiu. Deixou que a morte chegasse e ela estivesse ali deitada numa rua escura e fria...sozinha.
Não lhe deram mais um dia para fazer 16 anos.
A Nanita, era assim que os amigos a tratavam, morreu como têm morrido tantas meninas e mulheres neste país...às mãos de gente sem escrúpulos que se têm enchido de dinheiro à custa da desgraça dos outros.
Para que nunca mais nenhuma Nanita morra sozinha numa rua fria e escura de uma qualquer cidade deste País...eu voto SIM!!

P.S. -Esta não é uma estória de ficção...esta é uma história bem real, demasiado real e dolorosa para a família e amigos da Nanita. Aconteceu há mais de 30 anos...mas podia ter sido hoje.

Adenda:
A minha filha perguntou-me porque escrevi "estória" e não "história"...eis a explicação para quem tenha a mesma dúvida.

Estória é um neologismo proposto por João Ribeiro em 1919, para designar, no campo do folclore, a narrativa popular, o conto tradicional.
Alguns consideram o termo arcaico, mas ele difere claramente de "História", pelo primeiro ser algo inventado e o segundo algo verídico.
O termo acabou por não ter uma aceitação generalizada, uma vez que pode ser feita a distinção entre "história " (com caixa baixa ou minúscula) e "História" (com caixa alta ou maiúscula). O primeiro termo significa narrativa, ficção e o segundo refere-se à ciência que estuda o Homem no tempo.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

5 comments:

Tania Mac disse...

Eu queria guardar a minha opinião um pouco mais, não para fazer suspense, mas porque quando a disser, quero conseguir resumir tudo o que sinto e penso de uma forma linear e racional, tentar abster-me de ter uma reacçao como a que vou ter agora...

FODASSE SIM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
POR FAVOR SIM!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ACORDEM CARALHO SIM!!!!!!!!!!!!

...

Compreendo-te tão bem Dani, tive amigas que o fizeram e tiveram mais sorte, mas mesmo assim..

Um beijo linda

PS: Eu já sonhei 4 vezes com o que quero dizer no meu post, acho que qualquer dia, antes do referido dia, ele nascerá. :)

Anónimo disse...

O meu voto também é SIM!
Voto SIM, por uma lei que permita, que todas as MULHERES deste País, possam recorrer sem medo algum a cuidados de saúde dignos!

Infelizmente a MARIANA, foi uma das muitas infelizes que não puderam recorrer... por esta e muitas outras questões, o meu voto no dia 11 de Fevereiro será: SIM

Beijinho Xanu,

Donzília

Arte em Movimento disse...

Há mais ou menos 30 anos, uma amiga chamou-me a sua casa e pediu-me para lhe ir comprar um medicamento à farmácia com urgência. Ela estava muito doente de cama e não se podia mexer. A mãe dessa minha amiga estava preocupadíssima com a gravidade da doença da filha e não entendia o motivo de tanta febre e tanto mal estar. Não fiz perguntas, também nada me explicaram e saí disparada para a farmácia mais perto. Eu teria na altura 20. E os nossos 20 anos!! Quando mostrei "a receita" que levava com o nome do medicamento, o farmacêutico chamou-me à parte e perguntou-me se eu sabia o que era aquilo e para que servia. Teve o cuidado de não me perguntar para quem era! Eu respondi que não sabia, só sabia que a minha amiga estava muito mal e precisava daquele medicamento. Então foi-me explicado que era um medicamento abortivo, ou melhor, para retirar o resto da placenta depois de um aborto. Nem imaginam como fiquei! Pregada no chão da farmácia, gelada a olhar para o empregado. O medicamento foi-me vendido às escondidas. Levei-o o mais depressa que pude para a minha amiga o tomar, sem perguntas, sem respostas. O medo, o tabu, o pudor, faziam parte das nossas vidas. A minha amiga recuperou, depois de algum tempo em que esteve muito mal.
Pela Mariana, pela minha amiga e por todas as mulheres que são vitimas desta "escravatura", eu voto SIM.

Dina disse...

Quando só ouvimos falar mas não conhecemos ninguém que tenha passado por uma experiência destas é diferente. Possivelmente se não tivesse um contacto tão chegado com este caso a minha visão deste problema fosse diferente.Ainda hoje me lembro dela e sinto revolta pela forma como foi tratada por aquela pseudo parteira.
Alguns anos depois acompanhei outra amiga sabendo o risco que ambas corriamos...mas não queria que ela estivesse sózinha.Acontecesse o que acontecesse eu estaria lá e não a deixaria sózinha mesmo sabendo que se algo corresse mal poderia vir a ser apanhada nas teias duma justiça que de justa tem pouco.Pelo menos nestes casos. Não deveria ser a mulher que foi obrigada a fazer um aborto a ser penalizada mas sim quem se aproveita delas e se enche de dinheiro deixando-as muitas vezes estéreis ou matando-as sem que nada seja feito ou pelo menos muito pouco para acabar com este flagelo.

António disse...

Esta "história" vem mesmo a calhar.
É já no dia 11 que se decide muita coisa.

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