quarta-feira, outubro 21, 2009
quarta-feira, outubro 21, 2009 |
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Dina |
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No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.
Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.
Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;
Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;
Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...
Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade
Hoje...farias 88 anos.
Tenho muitas saudades tuas!
Eu sei que te traí, mãe.
Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.
Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;
Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;
Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...
Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade
Hoje...farias 88 anos.
Tenho muitas saudades tuas!
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10 comments:
Dina, emocionei-me imenso com as palavras de Eugénio de Andrade.
Emocionei-me pelo que suponho que a Dina sente...
Emocionei-me pelo que eu sinto. Enquanto filha, neta, Mãe.
Um beijo daqui até ao céu... *
Beijinho "estrela(do)" para si...
Também eu!
E mal tive tempo de a chorar, uma dor ainda maior já estava à minha espera!
Abraço solidário
Teresa, Eugénio de Andrade é sempre emocionante porque consegue dizer aquilo que nós não conseguimos...
Rosa uma mãe deixa sempre saudade e dor maior que ver partir uma mãe só consigo imaginar uma e desejo sinceramente que não tenha sido essa que tu tiveste que enfrentar.
Para as duas um beijinho grande, neste dia cinzento por dentro e por fora.
Que bom que ainda tenho a minha!!!!
Mãe há so uma!
E é aquela que nos afaga, acarinha, protege, e está sempre lá quando precisamos.
E que nos faz tanta falta!
A minha também já é uma estrela que brilha no céu.
Beijinhos
Sem palavras que possam atenuar essa saudade, deixo um abraço
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Carlos Drummond de Andrade
................................
Lido por mim na Missa de Corpo presente, quando a minha Avó morreu... Que Avó é Mãe duas vezes...
Beijo, Dina.
Mãe,
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?
Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.
Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.
Mãe,
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!
Miguel Torga, in 'Diário IV'
...............................
Lido por mim e pelos restantes netos, na Missa de Corpo presente, também quando a nossa Avó morreu.
Beijo, Dina*
Daqui até ao céu... O céu é o limite... *
Dina,
Esta Teresa quando se lembra de retribuir a Música pedida é bem Generosa.
Parabéns pela escolha dos poemas.
Jokas para as duas
Como mãe, comreendo a minha ter partido sem esperar por mim, como filha, é difícil aceitar esta partida!!.
Cada mãe é uma estrela no céu !!
Nem a morte nos separa nunca !!
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