segunda-feira, abril 03, 2006

Muito se tem falado sobre Elvas e o encerramento da sala de partos da maternidade Mariana Martins.

Até os senhores deputados falaram do caso no parlamento...
As futuras gerações de elvenses correm o risco de serem pacenses em vez de elvenses (a terminação é a mesma por isso que diferença pode fazer?)
Este problema nem sequer é novo.
Há mais de 25 anos já este problema se punha a quem queria ter um filho numa maternidade com o mínimo de condições.
No meu caso tive a minha primeira filha em Badajoz.
Esperei durante mais de 24 horas com as águas rebentadas e como não fazia dilatação só me resolveram a situação quando era impossível aguentar mais sem correr o risco de que uma de nós não ficasse cá para contar a história.
O que me protegeu de entrar em pânico nessa altura foi a inexperiência...só tive realmente consciência do que poderia ter acontecido quando o médico que acompanhou a minha gravidez( e que por ironia do destino estava num congresso em Madrid quando a minha filha resolveu adiantar a sua chegada) desatou a gritar com parteiras, enfermeiras, auxiliares e tudo o que lhe apareceu pela frente quando lhe contei como tinha corrido.
Afinal ele até se tinha preocupado em escrever uma carta para entregar na maternidade a explicar que o bebé era muito grande e que na minha família havia vários casos de cesarianas por dificuldades em fazer a dilatação necessária para o nascimento de uma criança.
Ainda hoje continuo a pensar que só me trataram assim por ser portuguesa e beneficiária de um seguro que na altura cobria todas as despesas. (Se fosse eu a pagar o caso tinha mudado de figura...)
Assim estive todas aquelas horas à espera correndo o risco de que a minha filha nascesse com sérios problemas e acabaram por ter que me anestesiar e tirar a bébé com ventosa.
Cerca de três anos depois resolvi que pior não poderia correr e tive a minha segunda filha na maternidade de Elvas.
Uma vez mais a dificuldade com a dilatação me obrigou a estar algumas horas numa ansiedade enorme.
Entrei por volta da 1h da manhã duma segunda-feira e ali fiquei sem que ninguém me fizesse absolutamente nada a não ser dizer que tinha que esperar porque ainda estava tudo muito atrasado.
O turno mudou às 8h e assim que a parteira que entrou de serviço a essa hora me viu perguntou logo a que horas tinha entrado e de imediato me foi observar.
Ainda recordo as suas palavras como se as tivesse ouvido há minutos atrás:
-Se eu achar que não consigo resolver a situação, telefono já ao seu marido e ele que a leve para outro sítio.
(Estávamos no início de Julho e todos os médicos estavam de férias, durante os 5 dias que passei na maternidade não entrou lá nenhum. Há 23 anos ainda não existia ali o Hospital)
Assim que me observou percebeu que o meu problema com a dilatação seria facilmente resolvido...deu-me uns comprimidos pequeninos e por volta das 11h30 as águas rebentaram e depois de mais um comprimido, a minha filha nasceu às 14h30 sem grandes complicações.
Não foi preciso cortes...só levei 2 pontos e fiquei lá os 5 dias porque acho que era norma na altura.
Ainda hoje me lembro da D. Judite que tantas crianças ajudou nessa altura a nascer.Graças a ela tive um parto sem grandes complicações ao contrário do que tinha acontecido em Badajoz onde havia médicos de serviço 24h e mais condições do que na maternidade de Elvas
A minha experiência mostra que muitas vezes o querer fazer as coisas bem, mesmo sem as condições ideais, é meio caminho andado para que tudo corra pelo melhor.
Há algum tempo ouvi um dos responsáveis pela administração do Hospital de Santa Luzia afirmar que o elevado número de cesarianas praticadas na maternidade elvense era um dos factores que permitiam perceber que as coisas não estavam a correr tão bem como deveriam.
Acredito que assim seja. Mas também acredito que não deve ser muito difícil mudar isso...basta meia dúzia de pessoas quererem.
Sai caro? Talvez...mas quanto pode custar uma vida que se perde logo à nascença?
Não me parece que estas situações devam ser analisadas por esse prisma. Gasta-se tanto dinheiro neste país em coisas que poderão ser consideradas bem menos necessárias que uma maternidade que apenas faz em média 200 e tal partos por ano.
Só que esses 200 e tal partos são numa zona do interior do Alentejo, com graves problemas a nível económico e por conseguinte social e com a agravante da desertificação humana ser cada vez mais acentuada. Elvas tem realmente Badajoz a poucos kilómetros...mas valerá a pena mandar as elvenses e claro as campomaiorenses e todas as outras utentes que em caso da maternidade de Elvas estar a funcionar poderiam ser para lá encaminhadas, para uma maternidade que quer se queira quer não fica noutro país?
Sou a favor da manutenção da maternidade em Elvas. Sou a favor de que se estudem formas de melhorar os serviços prestados e que se alargue o seu raio de acção.
Onde nascem as crianças de Borba ou Vila Viçosa? Em Évora? Porque não em Elvas se até fica mais perto e mais acessível?
Há concerteza alguma maneira de manter a maternidade Mariana Martins em funcionamento...basta que alguém queira.
Foi nessa maternidade que ,25 anos depois da minha má experiência em Badajoz, nasceu o meu primeiro neto.
Foi cesariana, não porque fosse mais fácil mas porque era a única solução. O tempo já tinha acabado, o bebé mais uma vez era grande e não havia qualquer dilatação.
Correu bem, o médico marcou o dia e hora e a equipa necessária estava a postos e, em poucos minutos tudo estava resolvido.
Sem nervosismos desnecessários...sem viagens incómodas para a parturiente e para os familiares.
Se nada for alterado...se um dia a minha filha resolver ter mais um filho...a história pode repetir-se... só que ao contrário.
Espero sinceramente que com melhores condições do que eu tive quando ela nasceu...em Badajoz.

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