segunda-feira, junho 27, 2005
segunda-feira, junho 27, 2005 |
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Dina |
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Hoje encontrei este texto que escrevi em Fevereiro de 2004
Durante mais de 20 anos vivi no campo...num monte alentejano onde acordava com os pássaros que escolheram umas das árvores junto à janela do meu quarto, para sua morada habitual.Eram bonitos, pretos e vermelhos...mas nunca soube que pássaros eram...nem isso me pareceu importante.
Era revigorante levantar-me abrir a porta e olhar ao longe...ver terras de Espanha do outro lado do rio...ouvir o silêncio apenas interrompido pelo ladrar de um cão...ou o chilrear dos pássaros.
Um dia um amigo que passou o fim de semana connosco e que reside habitualmente nos Açores muito perto do mar...disse-me algo que me fez impressão:-Esta noite não consegui dormir por causa do silêncio.
Explicou então que em casa adormece com o som do mar em fundo e que o silêncio que encontrou no Alentejo...era algo que o impedia de dormir.
Estranho? Talvez... mas compreensível.
Depois de 20 anos no campo, vejo-me de repente num prédio de 9 andares, vivendo no 8º tendo que andar de elevador para cima e para baixo...encontrando pessoas que nem sei em que andar e porta vivem... o que mais me chocou foi o episódio que aconteceu comigo um dia logo pela manhã.
Abro a porta ao mesmo tempo que um dos meus vizinhos de andar (éramos quatro)...e qual não é o meu espanto quando vejo essa pessoa...recuar e fechar a porta rapidamente só para não ter que descer comigo no elevador.Já tinha reparado que era uma pessoa que nunca dizia bom dia nem boa tarde...que um dia chegámos ao mesmo tempo e ela não quis subir connosco, mas na altura não liguei...quando a vejo fechar a porta como se fosse um bicho do mato só para não partilhar comigo o elevador...fiquei a pensar que aqueles caixotes não são casas...são celas de isolamento.
Se já antes tinha a certeza que queria sair dali...nesse dia tomei a firme resolução de o fazer o mais depressa possível.Felizmente que consegui.
Hoje não tenho elevadores, tenho vizinhos mas são vizinhos que vivem na mesma rua e que me dizem bom dia com a maior das naturalidades.
Tenho pena que as pessoas não consigam continuar a ser "gente"...mesmo quando vivem em caixotes de betão frios e impessoais.
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