segunda-feira, novembro 26, 2007
segunda-feira, novembro 26, 2007 |
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Dina |
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Meninos somos todos nós. Fechados no nosso mundo, cegos e surdos ao que se passa à nossa volta, quando a vida pede mais ou oferece de menos; perdidos em labirintos de enganos e traições, quando os nossos sonhos se desfazem na expectativa do que poderia ter sido.
Meninos somos todos nós e a nossa teimosia em querer preservar, num mundo em que reina a lei da selva, qualquer coisa que se pareça com pureza, honestidade ou simplicidade. Menina é a nossa esperança e a certeza de outros mundos, tão longínquos mas tão perto que, parece, basta por vezes estender a mão, dizer a palavra, dar o passo...menina é a fé de que lá chegaremos.
Quando, se, porque crescemos, é para sobreviver apesar de tudo, é porque queremos manter viva essa réstia de crença num mundo que um dia construiremos à nossa imagem. É preciso, custe o que custar, ir para a frente, entrar no jogo, vestirmos a farpela de adulto e brincarmos aos senhores importantes, que fazem as leis ou as aplicam. É fácil, depois, sermos levados pela maré das necessidades absolutas, pela seriedade das razões, pela necessidade de sermos os mais fortes para evitar sermos os mais fracos. Chegamos a acreditar naquilo que dizemos e perdemo-nos por vezes no emaranhado das regras que construímos e que serviam apenas para iludir os outros. Por vezes paramos aí, instalamo-nos na facilidade do jogo bem jogado, esquecidas as primeiras intenções, pensamos que chegámos a qualquer lado. Perdidos num País das Fadas onde o tempo carece de significado, e os anos são segundos em que se desperdiça a riqueza das nossas vontades, para ali ficarmos, às vezes para sempre, e esquecemos a razão por que começámos.
Acontece a alguns.São, muitas vezes, os senhores importantes deste mundo, porque o alheamento em que caíram lhes permite seguir sempre em frente e atingir alturas, donde podem dominar os outros.
Ficamos todos nós, os meninos de sonhos inacabados, que falamos com o vento e procuramos, nas noites mais negras, a estrela do nosso "pequeno príncipe". Ficamos nós, que nos revoltamos com a prepotência e a violação e choramos com a fome e a guerra. Que procuramos no atropelo das nossas vidas sobrecarregadas, minutos de silêncio, encontros connosco próprios e a verdade das coisas e das pessoas. Como o menino sozinho no seu mundo, vivendo cada minuto, importantes conversas com o ribeiro, as árvores, as folhas, a areia e o silêncio, ou a menina que partiu em busca de qualquer coisa que não conhecia ainda , todos nós continuamos a ter um bocadinho da criança que, desiludida com aquilo que lhe foi dado, insiste em procurar, dentro de si mesma, a resposta.
Por vezes ficamos sós e é pena, porque há sempre um menino que espera por nós. Por vezes também,encontramos a menina, mas estamos tão longe, tão prisioneiros dos nossos hábitos, tão arreigados às nossas crenças, que não a vimos e, tal como o menino, fechamos os olhos com mais força e preferimos o sonho. Mas acontece, pode acontecer, na nossa busca ou no nosso retiro, que os olhos se encontrem e digam as palavras certas. Pode acontecer a coragem de as ouvir ou a aventura de as viver. Pode ser que esse mundo, que conservámos com tanto esforço, para além de toda a lógica, renasça intacto e verdadeiro e então, podemos deixar de ser meninos, ou continuar a ser meninos toda a vida, a escolha é nossa.Mas seremos definitivamente, pessoas.
Porque uma pessoa é uma obra-com princípio, meio e fim. E só é completa quando conserva, para além de todas as conquistas da sua maturidade, o conhecimento das coisas dos seus sonhos de criança. O que quer dizer que para ser um homem, não poderemos deixar nunca morrer o menino que há dentro de nós.
Maria F. Blanc
Jornalista
Quadro de Portinari
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5 comments:
Seguiu mail. Vai lá em casa.O que é aquele endereço? Logo volto com calma.
beijos
Obrigada pela dica. Já tirei o mail do ar. Aquela menina é uma querida que trabalha no Espaço Net em Mangualde.
beijos
Que bonito texto Dina. Obrigada pela partilha. Adorei. Já li e reli duas vezes.
Um abraço
Eu também já o li e reli.
Esta Maria Blanc escreve quase tão bem como a nossa Elvira!
:)
LI sim senhora e gostei bastante!
Aprovo mesmo que não podemos sequer pensar em deixar "morrer" a criança que há em nós!
beijo
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