domingo, julho 03, 2005
O caso que vou contar, aconteceu este domingo dia 3 de Julho de 2005 no Hospital de Santa Luzia em Elvas.
A minha mãe tem 83 anos e uma insuficiência cardíaca grave que por vezes a leva a ter que ser internada.
Até agora todos os internamentos tinham sido no Hospital Egas Moniz em Lisboa no 7º piso.
Nada a apontar quer a nível de pessoal auxiliar, quer a nível de médicos e enfermeiros.
Como neste momento vivemos em Elvas o último internamento dela foi precisamente neste hospital, que eu sempre achei ser exemplar.
Achei até este domingo. Eu sei que não posso generalizar, sei que há belíssimos profissionais naquela unidade de saúde, mas confirmei algo que já tinha notado:
Há ainda muitos que estão a anos-luz da filosofia do Egas Moniz.
São muito frios e impessoais com os doentes. Pelo menos a maior parte. Há excepções e também as encontrei.Felizmente.
Mas o que motiva esta crónica infelizmente são os maus exemplos e aqui fica o que se passou.
A minha mãe não pode fazer um esforço por pequeno que seja sem que fique extremamente cansada.
Para uma pessoa que sempre foi muito activa ver-se agora nesta situação não é fácil.
Tomar banho sozinha é para ela um esforço demasiado grande.
Mas teve que o fazer porque o enfermeiro de serviço a mandou e quando ela lhe disse que não conseguia, a resposta foi:
-Se pode ir à casa de banho também pode tomar banho sozinha.
Claro que foi um esforço demasiado grande e já não se conseguiu limpar em condições, teve que ser umas das auxiliares a ajudá-la.

Quando a fui visitar e ela me contou, fui falar com as pessoas que estavam de serviço e que por coincidência estavam todas juntas. Não falei para ninguém em especial, disse para que todos ouvissem que o esforço era demasiado para a minha mãe e que
agradecia que não voltasse a acontecer porque ela tinha um historial que não lhe permitia esse esforço.
Resposta de uma das enfermeiras (eram 3 os profissionais que ali estavam):
-Isso é mentira, a sua mãe é que é uma chata que está sempre a chamar por tudo e por nada. Ninguém a mandou tomar banho sozinha ela é que faz o que deve e o que não deve, pensa que não temos mais ninguém para atender.
Além disso os doentes só tomam banho sozinhos em casos excepcionais porque temos receio que eles escorreguem.
E voltou uma vez mais a repetir:
-A sua mãe é uma chata; cada vez que vê alguém passar à porta do quarto chama-a logo.
Até posso concordar que a minha mãe é uma pessoa exigente, que como doente é capaz de não ser das que fica calada, que até é capaz de as chamar várias vezes.
Concordo que precisamente porque sempre foi muito activa a inactividade a que se vê agora obrigada a torna possivelmente mais difícil que outras pessoas.
Mas o que me parece bastante lamentável é a forma como a "profissional" de saúde me respondeu, chamando a minha mãe de chata e mentirosa, quando na verdade o colega dela tinha feito exactamente o que eu referi, na frente dela, e a minha mãe ao contrário do que ela afirmou, tomou mesmo banho sozinha.
Afinal quando deixamos os nossos familiares num hospital é porque eles não estão em boas condições físicas. Têm limitações que só os profissionais das unidades de saúde podem ajudar a ultrapassar.
Esperamos que esses técnicos os tratem de forma profissional o que implica que nunca os colocarão em risco.
A minha mãe correu o risco de cair enquanto tomava banho sozinha sem estar em condições de o fazer.
Correu o risco de piorar em vez de melhorar que é no fundo o que se pretende com o seu internamento.
A quem devo pedir contas dessa atitude?
Se apresento uma reclamação por escrito junto da administração do hospital, quem me garante que a minha mãe não vai sofrer represálias?
Se quando tentei apenas que percebessem (quando já o deviam saber) que o esforço que lhe exigiram era demasiado para as suas capacidades, chamaram-lhe chata e mentirosa. Ou seja era a palavra dela contra a de pelo menos dois dos "profissionais" de saúde que a deviam ajudar a melhorar.
É este o sistema de saúde que temos? É este o Hospital para onde levamos os nossos doentes?
Na minha modesta opinião todos estamos em risco quando deixamos de confiar em quem jurou tudo fazer para ajudar a minorar o sofrimento dos seus semelhantes.
A partir de hoje eu estou desconfiada.
Enquanto houver, nem que seja, APENAS UM profissional de saúde que ache que pode ter atitudes destas, eu não estou descansada.
Lamento pelos BONS profissionais que o Hospital de Santa Luzia tem, porque o trabalho deles fica reduzido a pouco quando acontecem situações destas.
Com estas situações perdemos todos. Os profissionais de saúde, os utentes e a comunidade em geral.

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